Renata em Poesia por Ivone
- vozesdelagoasanta
- 14 de out. de 2020
- 2 min de leitura
Pra você, Renata Rosa!

TOM-SOBRE-TOM
Quando Rosinha nasceu, seu quarto já estava decorado: Paredes cor-de-rosa, teto cor-de-rosa, cortinas cor-de-rosa, adornos cor-de-rosa, brinquedos cor-de-rosa, pantera cor-de-rosa... Rosa também a primeira chupeta (bem como a segunda, a terceira, a milésima)... Seu enxovalzinho, que coincidência! Também era ROSA! Os presentes de boas-vindas foram chegando, um a um, embrulhados em papéis cor-de-rosa e com laços cor-de-rosa e, à medida em que iam sendo desembrulhados, TCHAM! TCHAM! TCHAM! TCHAM! Um festival de tom-sobre-tom, exaustivo e fúnebre!...
É que sua mãe havia feito ultrassonografia, daí, sua futura madrinha imediatamente tomou as rosadas -digo, devidas- providências de rosear tudo quanto foi possível! A bem da verdade, o fato é que o feto mal havia se formado e já estavam formadas as torcidas organizadas que divergiam quanto ao nome da menina de bochechas rosadas:
ROSANA OU ROSEANA? ROSEMEIRE OU ROSEMARY? ROSÁLIA OU ROSALVA? ROSAURA OU ROSIMAR? Que tal ROSICLAIR? Por fim, chegaram a um consenso: ROSA! Como ninguém pensou nisso antes? (...)
Assim, Rosinha cresceu em graça e estatura na presença do rosa... Convivendo com o rosa... Suportando o rosa... Por sinal, ela adorava o desenho 'Pink e Cérebro'... Lembram da musiquinha? “O Pink e o Cérebro! O Cérebro e o Pink! Um é inteligente, o outro é imbecil... Adivinham quem era o imbecil? (...) Acontece que de imbecil Rosinha não tinha nada, pois, cresceu também em sabedoria e rebeldia!
EM SABEDORIA, ao deixar bem claro (ou bem escuro ou bem colorido), que não tinha absolutamente nada contra o rosa. Simplesmente ficava verde de raiva quando uma mera cor, um gênero, tentava impor, afinal, por toda sua vida, em seu caminho, Rosinha jamais cruzou com algum menino chamado 'Azulzinho!',
EM REBELDIA, ao descobrir que a vida não é cor de rosa!...
Decepcionada? Que nada!
Se cor de rosa não era a vida,
havia outra cor escondida
e ela haveria de encontrar!
E foi então que chutou o balde,
não chorou pela tinta derramada
e ainda reivindicou a aquarela
que faltava em sua caixa de lápis de cor!
(O arco-íris encantado
que, um dia, a levaria ao pote de ouro,
ao outro lado)...
e, desde então, camaleoa,
(mais leoa que cama, entretanto),
passou DE LARANJA A VERMELHA
E DE TRANSPARENTE A LILÁS...
Emancipada e não mais invisível,
viu que outro mundo era possível,
iniciou sua jornada, seu próprio acesso,
eis que ela abriu, seguiu em frente,
sua escalada e foi ainda muito além:
mudou e, não de cor somente,
mas, de endereço também!
Passou do ambiente doméstico-familiar,
a todos os espaços que se possa imaginar!
Multiplicou seus passos, quebrou ciclos, estendeu círculos,
construiu pontes, quebrou muros,
antecipou futuros, ampliou horizontes,
foi pra rua, foi à lua, foi à Marte,
está na NASA e em toda parte,
cumprindo a sina de ser sujeito, não objeto!...
Casa, doce casa e ela lá, trancafiada?
Que nada!
Rosinha achou a chave! Já não vive restrita!
Suspeito até que virou ave, que criou asas!
Superou medos e dores, descobriu segredos,
misturou cores, pintou com os dedos,
descobriu outras tintas...
e tudo agora é da cor que ela pinta! - Ivone Mendes
Comments